Hyalina Farias foi selecionada novamente na vaga de deficiente — Foto: Reprodução/Instagram
Após ter a matrícula indeferida duas vezes na Universidade Federal do Acre (Ufac), a ex-miss Acre Hyalina Lins Farias, de 21 anos, foi convocada na lista da terceira chamada do Sisu para o curso de medicina em vaga para deficiente que, independentemente da renda, estudou o ensino médio em escolas públicas.
O nome da estudante aparece entre os seis selecionados para o curso. A lista foi divulgada nesta terça-feira (4), pela Ufac.
A reportagem também entrou em contato com a defesa da estudante, mas a advogada Samarah Motta disse que vai sentar para conversar com a cliente e, por enquanto, não vai comentar o caso.
A Ufac disse que não vai comentar o caso.
Hyalina Lins está entre os seis selecionados para o curso de medicina na Ufac — Foto: Reprodução
Polêmica
Em fevereiro, a convocação da estudante para o curso de medicina na Ufac gerou polêmica. Isso porque ela foi selecionada na vaga de deficiente e também alegou ser de baixa renda com salário igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, cursando o ensino médio em escolas públicas. Mas, nas redes sociais, os internautas destacaram que a jovem não tem deficiência e possui uma vida de luxo.
“O problema é que ela não cumpre os requisitos ué [sic], tirou a vaga de uma pessoa que cumpre. Ela não tem baixa renda e nem é deficiente”, disse um internauta.
“Ela falou, falou nos stories, e não disse a deficiência. Entrar com esse tipo de cota, mentindo, é muita falta de caráter”, dizia outro comentário.
Em entrevista no dia 12 de fevereiro, a estudante explicou que sofre de baixa visão desde a infância e tem 20 graus de miopia. Porém, a comissão que avaliou a documentação dos estudantes convocados entendeu que ela não comprovou a existência de deficiência elegível para a política de ação afirmativa.
Com o indeferimento, Hyalina entrou com recurso na Justiça contra a decisão. Além disso, ela decidiu processar também quem denegriu a imagem dela nas redes sociais.
Comentários em redes sociais acusam ex-miss de não ter deficiência — Foto: Reprodução/Instagram
Decisão ‘absurda e inconstitucional’
Em reportagem publicada no último dia 20 de fevereiro, a defesa da estudante afirmou que considerava o indeferimento da matrícula como “absurda e inconstitucional”.
Em nota, a defesa da ex-miss disse ainda que Hyalina sofre com deficiência visual desde criança e que, desde então, é acompanhada com oftalmologista.
“A modelo sempre buscou corrigir sua visão por meio de óculos e lentes. Contudo, o tratamento não é suficiente para reparar sua deficiência, impossibilitando-a de estar em grau de igualdade com pessoas que possuem visão regular”, alegou.
A advogada disse ainda que a repercussão da convocação acabou atrapalhando a matrícula da modelo e aponta ainda falhas no processo de perícia da Ufac.
“Mesmo com todos os documentos em mãos que comprovam sua deficiência, a modelo foi impedida de se matricular no curso de medicina, sendo que a Ufacc sequer realizou perícia com médico oftalmologista para contestar a doença da candidata”, explicou.
‘Cultura misógina’
A nota da defesa de Hyalina diz ainda que, desde a repercussão do caso, ela vem sendo atacada nas redes sociais. “Como se uma pessoa bonita não pudesse ter alguma deformidade ou limitação física e ou sensorial”, pontua na nota.
A advogada destaca ainda que vai recorrer na Justiça para que o direito da ex-miss seja assegurado. Além disso, deve processar quem denegriu a imagem dela nas redes sociais.
“A atitude da Ufac, além de ilegal e discriminatória, reflete uma cultura misógina que inferioriza as mulheres, coisificando o feminino e criando verdadeira política de exclusão social baseada em fake news”, finalizou a nota.
Comissão avaliadora
Na época, a Ufac rebateu as alegações da defesa da ex-miss, alegando que todos os candidatos que concorreram a vagas reservadas às pessoas com deficiência (PcD) foram submetidos à Comissão Permanente de Validação (CPV), que é composta por uma equipe multiprofissional, formada por especialistas e médicos peritos, pertencentes ao quadro permanente da universidade.
“A CPV/PcD analisa todos os candidatos de maneira biopsicossocial. Ou seja, além de analisar os laudos médicos, os membros da comissão realizam entrevistas para comprovar se o candidato apresenta alguma condição que o caracteriza como pessoa com deficiência”, alegou na nota.
A reportagem tentou conversar novamente com a estudante, mas ela não quis comentar sobre a nova seleção. Em breve diálogo, Hyalina apenas destacou que tem como comprovar que é deficiente e espera ser aprovada.
Por Aline Nascimento e Alcinete Gadelha, G1 Acre