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30 anos após Chico Mendes, Acre quer renovar a Aliança dos Povos da Floresta

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Com a morte do líder seringueiro Chico Mendes, no Acre, o mundo passou por uma transformação na questão ambiental. Ficou claro, para boa parte da sociedade, que proteger a floresta é valorizar quem nela mora e garantir o desenvolvimento sustentável.

Bem, 30 anos depois esse entendimento não está mais tão claro assim. O espírito do “agronegócio a todo custo”, matar, derrubar e queimar, ganhou força política no último ano elegendo gestões voltadas para o campo, aquele campo que nem sempre segue a regra.

No Acre, por exemplo, o governador Gladson Cameli, aliado, eu diria apaixonado, pelo presidente Bolsonaro e seu símbolo, disse para todos os agricultores que “não precisava pagar multa nenhuma do senhor Imac”. Imac é o Instituto de Meio Ambiente do Acre, gerido pelo próprio governador, responsável por emitir licenças e fiscalizar. Em sua campanha, em frente ao Palácio Rio Branco, no meio de uma multidão, Gladson bradou que ia “dar um terçado e uma enxada para os fiscais do Imac”.

Foram duas declarações públicas atacando uma instituição do Estado. Estava aí uma autorização para o desmatamento e queimada. O Acre viu seus índices se elevarem ainda mais, de janeiro a julho deste ano, o aumento chegou a ser 300% maior que no mesmo período de 2018. 

Área da Reserva Extrativista Chico Mendes em chamas para abrir novo espaço para pasto. Fotos: Katie Mähler / Brigada NINJA Amazônia

O Ministério Público do Acre chegou a intervir, lembrando o governador que (ainda) não se pode incitar crime e que existem regras a seguir. Foi realizada uma visita do órgão ao Imac para averiguar sua situação de fiscalização.

“O Ministério Público está atento, como fiscal da ordem jurídica. O órgão ou gestor que não aplica a lei que está vigente, comete um ato prevaricação que é um crime”, afirmou a procuradora de Justiça Rita de Cássia Nogueira Lima, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Cultural e Habitação e Urbanismo (Caop/Maphu).

“Temos ainda a lei dos crimes ambientais, a 9.605. Por isso, enquanto essas leis estiverem vigentes, o Ministério Público vai responsabilizar todos os infratores ambientais, onde quer que eles estejam na escala de poder, pela omissão e descumprimento da legislação”.

Após pressão da sociedade, tanto nacional quanto internacional, os Estados e a União tomaram providências para frear a crescente onda de desmatamento e queimadas. O Acre, que teve um mês de emergência em agosto, conseguiu controlar os focos mas ainda assim, teve seu nível de desmatamento acima do último ano. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e setembro de 2019, foram 382,24 km2 de alertas de desmatamento no Acre, 78,8% acima do mesmo período de 2018.

Alerta para proteção

O alerta de desmate não fica de lição apenas para o Estado, mas também para o movimento socioambiental. Está evidente que as comunidades extrativistas, ribeirinhas, indígenas e da agricultura familiar estão enfrentando um momento de grande perigo. No Acre, tivemos a volta de ataques a moradores da floresta, como a Brigada NINJA Amazônia mostrou ao relatar o caso do seringal são Bernardo, em que jovens foram torturados, possivelmente por policiais militares.

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Vem do Acre também vozes que ecoam a força da luta de Chico Mendes e tantos outros companheiros e companheiras que deram a vida por seus povos. Ângela Mendes, filha do líder seringueiro assassinado em 1988, continua denunciando os ataques aos povos da floresta e buscando alternativas para que haja, definitivamente, momentos de paz.

Ângela Mendes, filha do líder seringueiro assassinado por madereiros, em articulação no Congresso Nacional. Foto: Mídia NINJA

“A gente sabe quem são essas pessoas que no passado denegriram, humilharam e assassinaram e que hoje continuam manchando a memória de Chico Mendes. São as mesmas pessoas que têm alinhamento com esse governo atual, estão irmanadas contra o meio ambiente, a natureza e as populações tradicionais”, declara Angela.

Um dos legados da luta da Aliança dos Povos da Floresta, entre indígenas e extrativistas, liderada por Chico Mendes, foi a criação das Reservas Extrativistas, previstas em lei. Esta iniciativa gerou um total de 13,8% de terras da Amazônia Brasileira protegidas, dando um lugar de segurança para suas populações tradicionais. Esta conquista, o Governo Federal quer diminuir, a revisar, tanto demarcação de Terras Indígenas como a criação de Unidades de Conservação.

Raimundão, líder seringueiro e companheiro de Chico Mendes nas lutas pela preservação da Floresta Amazônica. Foto: Katie Mähler

“Nossa luta, há mais de 30 anos, se deu pela necessidade que nós tínhamos, e continuamos tendo, de viver aqui na floresta. Nós nascemos e nos criamos aqui na floresta”, relembra Raimundo Mendes Barros, o Raimundão, personagem histórico e companheiro de Chico. Ele continua a cortar seringa, colher castanha, plantar e criar animais no mesmo seringal há mais de 30 anos, em Xapuri.

Depois dos empates dos anos 1980, ato em que os seringueiros se botavam contra máquinas e homens que iriam desmatar uma área, muitos deles liderados por Raimundão, o seringueiro ainda vê a ameaça contra a floresta, e agora com mais força do Estado brasileiro. “Não bastasse a maldade e ganância do latifúndio, que quer ganhar dinheiro destruindo as florestas, tem o Estado, que além de tirar os instrumentos dos órgãos com o dever de coibir essa prática nociva, ainda incentiva e cria instrumento para facilitar essa desgraça que está acontecendo com nossa Amazônia”, afirma. 

“O mundo fez um empate contra o governo”, diz o seringueiro Raimundão.

 Sobre os diversos atos pelo mundo e pelo Brasil, após os números de queimadas subirem assustadoramente este ano, Raimundão, sentado em sua varanda, junto da cachorrinha Peteca e o neto, pareceu se sentir menos só nesta nova luta: “gostei da atitude nacional e internacional de pressão contra as queimadas. Nos anos 80 fizemos o empate aqui contra os fazendeiros que queriam nos expulsar e derrubar nossa floresta e agora o mundo fez um empate contra o governo”. 

Novos caminhos 

Com certeza, a atitude que o mundo tomou ao ver um dos seus maiores bens sendo destruídos pode ser atribuído ao legado de Chico Mendes e às famílias que, juntas, enfrentavam jagunços e grandes fazendeiros. “Meu pai deixou um legal que a gente tem, concretamente, como medir”, diz Ângela Mendes. “Mas a partida dele deixou um vácuo, quando você fala do legado nas Reservas Extrativistas e nos milhões de hectares de floresta preservada por meio desse território de uso coletivo. Ele não está aqui para ajudar a implementar e pensar como isso de fato pode impactar nas vidas dos moradores da floresta”.

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Agora o desafio vai além. Para Francisco Piyãko, liderança do povo Ashaninka, do Acre, “a aliança dos povos da Floresta proporcionou o ordenamento e garantia de lugar para todos nós, indígenas e extrativistas. O problema hoje é que estamos trabalhando menos para implementar políticas públicas e mais para garantir direitos que já estavam assegurados, isso por causa da pressão que o governo federal e de alguns estados fazem contra os indígenas”.

Francisco Pianko, liderança indígena do povo Ashaninka que vive na aldeia Apiwtxa próximo à Marechal Thaumaturgo. Fotos: Katie Mähler

Manter e ampliar políticas públicas parece uma tarefa difícil, mas o Acre tem também uma passado que pode ser renovado. “No Acre, temos uma história bem recente quando o Estado aceitou os povos indígenas, já em um momento em que suas terras estavam demarcadas e com o seu processo de organização já em andamento”, explica Piyãko. “Esse diálogo fez com que o Estado pudesse ter hoje a clareza dos povos indígenas no Acre, a partir da diversidade cultural. Isso fez também com que os povos dessem sua contribuição para reafirmar uma identidade acreana plural, da floresta”.

Exemplo disso, é que o Acre teve por quase 10 anos uma redução de desmatamento de mais de 50%. Mesmo que seu Produto Interno Bruto (PIB) tenha subido, o crescimento acumulado do PIB do Acre entre 2011 e 2014 foi de 18,2%, o oitavo maior entre as unidades da federação. Cadeias produtivas como castanha, borracha e fruticultura foram incentivadas e podem se tornar alternativas econômicas para os moradores da floresta.

“É preciso fazer uma retomada da Aliança dos Povos para fazer a gestão do território e uma resistência às ameaças”- Francisco Piyãko

Para isso é preciso acreditar na Amazônia, como ela realmente é, uma comunidade viva, além do pasto e da extração de madeira e minério. Piyãko pontua, exatamente, o que pode ser a receita para um novo momento: “agora é preciso fazer uma retomada da Aliança dos Povos para fazer a gestão do território e uma resistência a todas as ameaças que estão sendo feitas ao nossos modos de vida. Todos que ocupam a Amazônia precisam se ver dentro do mesmo entendimento, que aqui somos importantes, temos muito a contribuir ao manter a floresta em pé e as culturas vivas. É uma contribuição para a humanidade. A aliança tem que ser maior do que foi, pois agora é para garantir a sustentabilidade e não deixar que o fogo destrua tudo isso que temos hoje.”

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Centro de Convivência do Idoso em Cruzeiro do Sul reinicia atividades para as pessoas da terceira idade

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(Assessoria) – O Centro de Convivência do Idoso reiniciou nesta sexta, 5, com um baile de boas-vindas, as suas atividades para as pessoas da terceira idade que frequentam o espaço. A partir de segunda-feira,8, pela manhã e tarde haverá trabalhos corporais, hidroginástica, artesanato,terapia ocupacional,passeios, palestras. As rodas de conversa, grupos de convivência no Espaço Café com Prosa,com jogos de baralho, dominó, dama e xadrez, também são retomados.

O Centro de Convivência do Idoso funciona de segunda a quinta-feira, nos horários das 7:30 às 11:30h e das 14:00 às 17:00h, oferecendo café da manhã e lanche da tarde. Às sextas-feiras, o centro opera em tempo integral, servindo café da manhã, almoço e lanche da tarde.

A coordenadora Grazi Ramos enfatizou as parcerias importantes estabelecidas com o centro: “Essas atividades são desenvolvidas em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social -CRAS , o Centro de Referência Especializado de Assistência Social -CREAS, o Grupo de Apoio ao Serviço Humanitário ,GASH que é o grupo coordenado pela primeira dama Lurdinha Lima. E a gente fez também duas parcerias importantes esse ano com duas universidades, que é o Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC, que oferece o curso de medicina em Cruzeiro do Sul, que vão desenvolver uns projetos aqui conosco, e também a Clarentiano, com o grupo da turma de fisioterapia” , elencou.

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Margarida Neves da Silva, 83 anos, falou sobre a importância do centro para sua vida ” Isso aqui representa tudo pra minha vida. É a nossa amizade, é o nosso bate-papo, é a nossa vivência de sexta-feira, o dia todinho, né? E aqui a gente encontra essas pessoas maravilhosas, porque é uma joia, é uma joia rara que a gente encontrou aqui, no nosso lar. Aqui representa o nosso lar”.

Maria do Carmo da Silva, 79 anos, frequenta o Centro do Idoso já há 20 anos. “Entrei com 58 anos, 20 anos que eu frequento aqui. Aqui é importante pra mim que eu antes vivia só. Quando eu venho pra cá, pra mim é tudo. Me encontro com os conhecidos, com os amigos”.

Segundo a primeira-dama Lurdinha Lima, o objetivo é oferecer um ambiente onde os idosos se sintam valorizados e apoiados:

“Quando eles chegam nessa casa são bem acolhidos, com muita alegria, com muita saúde, que muitos chegam aqui doentes e saem daqui curados dos seus problemas. Porque aqui é uma casa que oferta a eles atividade física, jogos, artesanato, cultura. Aqui eles vivem um pouco de tudo. Enquanto em casa muitos vivem numa solidão, aqui eles encontram amigos, fazem novas amizades, se divertem, sorriem. Então é um prazer para a gestão municipal poder proporcionar isso através do Centro do Idoso, juntamente com a assistência social que faz um trabalho maravilhoso junto com a coordenação do Centro “, enfatizou a primeira dama.

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