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A guerra dos “ Bestializados” e a falta de atenção “Bilontras”

Rapidamente imagens do movimento com o desafio de que fosse encontrado um negro, foram publicadas.

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Rapidamente imagens do movimento com o desafio de que fosse encontrado um negro, foram publicadas.

Sérgio Souza

A guerra dos “ Bestializados”

Na obra “Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi”, especificamente em seu capítulo IV, denominado “Cidadãos ativos: a Revolta da Vacina”, o historiador José Murilo de Carvalho demonstra, baseado em pesquisas realizadas em fontes diversas, onde incluem-se, por exemplo, jornais, revistas e documentos oficiais do final do século XIX e início do século XX, que segmentos da sociedade carioca, principalmente os mais pobres, expressavam uma efetiva capacidade de promoverem levantes contra o governo, quando sentiam-se aviltados, principalmente em decorrência de aumento de impostos ou medidas intervencionistas, onde incluíam-se fechamento e derrubada de habitações. Um exemplo de movimentos com esta característica foi a chamada “Revolta da Vacina”, ocorrida no decurso do ano de 1904, quando parte da população, por motivos diversos, recusou-se a submeter-se ao método profilático da Vacina contra a varíola, tornado obrigatório a partir de solicitação da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), à época, dirigida pelo médico Oswaldo Cruz.

Movimentos com esta característica ocorriam, mesmo com o autor ressaltando que as elites empenhavam-se ao máximo para que a participação na vida política fosse restrita, que o Estado fosse compreendido, por boa parte da população, como “como algo a que se recorre, como algo necessário e útil, mas que permanece fora do controle, externo ao cidadão” (CARVALHO, 1987, p. 146). Tais tentativas, no entanto, não demonstraram eficácia, considerando que diversos processos de ruptura ocorreram, explicitando descontentamentos, e levando o Estado a agir de forma condizente com sua essência, ou seja, com arbitrariedade, com autoritarismo.

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A breve introdução é apenas uma referência. A perspectiva, ao desenvolver este superficial diálogo, foi demonstrar que, ao contrário do que se pode imaginar, A parcela da população que, aparentemente, demonstrava passividade, terminava, vez por outra, construindo processos intensos de resistência. Dessa forma, cria-se então a perspectiva de que, não era para este segmento social que caberia a pecha de “bestializados”, pelo contrário, segundo o autor: “Bestializado era quem levasse a política a sério, era o que se prestasse a manipulação (…). Quem apenas assistia, como fazia o povo do Rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava longe de ser bestializado. Era bilontra [gozador, espertalhão].” (Idem, p. 160).

Pensando por este viés, é possível dizer que, durante as manifestações ocorridas no dia 15 de março, tivemos a participação de diversos “bestializados”, ou seja, os que ainda professam uma intensa e inabalável fé nas instituições políticas, sujeitos absolutamente presos a concepções homogêneas, apegados a dogmas, que demonstram uma inabalável incapacidade de diálogo com o contrário. Inserem-se neste contexto oposicionistas, que pediam mais saúde, educação, a saída do PT e, como referência para legitimar suas “vontades”, apoiavam-se no genérico jargão de combate à corrupção, sem expressar se corrupção é um problema de um único governo, ou um problema estrutural do Estado Brasileiro, envolvendo todos os poderes republicanos, no caso, Executivo, Legislativo e Judiciário. Em meio a estes “bestializados”, estavam os que defendiam o retorno da ditadura militar, portavam a antiga e carcomida bandeira do partido integralista brasileiro (fascista) e cometiam outros tipos de sandice.

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Os “bestializados” do poder também cometeram suas sandices. Após os atos expressaram, em posicionamento oficial, que os movimentos foram realizados por pessoas que não apoiavam a presidenta, algo de uma extrema obviedade. Mas a perspectiva era outra, ou seja, vincular os movimentos a possíveis resquícios da última eleição. Seria uma espécie de “terceiro turno”. Neste caso, o problema era restrito a determinados grupamentos, no caso, as “elites brancas”. Observe-se que outros “bestializados”, com concepções parecidas, trataram de reproduzir, de imediato, tais concepções nas redes sociais. Rapidamente imagens do movimento com o desafio de que fosse encontrado um negro, foram publicadas.

Ao que parece, tanto os “bestializados” do poder, quanto os que querem o poder, não atentaram para os “bilontras”. Sujeitos que expressam profundas descrenças nas instituições brasileiras, excluídos de uma efetiva participação na República, mercê de decisões e acordos dos quais ficam à margem. Estes sujeitos sociais, no entanto, criam formas e maneiras diversas de expressarem descontentamentos. Muitas vezes, inclusive, agem como iconoclastas, esmurrando, enfraquecendo e até mesmo destruindo os pés de ídolos.

Obviamente que todos estes escritos por mim produzidos expressam apenas opiniões pessoais, mantendo-se distantes de qualquer possibilidade de serem compreendidos como “verdades” incontestes. A perspectiva é, somente, expressar a opinião de um bilontra.

Sérgio Souza é historiador e professor da Universidade Federal do Acre

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1º ciclo unificado de auditorias na pecuária da Amazônia: divulgados os resumos públicos por empresas

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Foto ilustrativa por rawpixel.com, em domínio público, via nappy.co

(MPF)  – O Ministério Público Federal divulgou os resumos públicos de resultados de cada empresa participante do primeiro ciclo unificado de auditorias na cadeia econômica da pecuária na Amazônia Legal.

Os resumos apresentam dados mais detalhados do que os divulgados no evento realizado em outubro de 2023 para anunciar os resultados. O ciclo marcou a primeira vez em que auditorias nessa cadeia econômica foram realizadas a partir de critérios idênticos para toda a Amazônia.

Foram divulgados resumos referentes a empresas que passaram por auditorias contratadas e, também, os resumos de resultados relativos a empresas que foram submetidas às chamadas auditorias automáticas. Confira aqui os resumos.

Dois tipos de auditorias – As auditorias contratadas são feitas por empresas independentes, cujas contratações estão previstas em acordos que vêm sendo assinados desde 2009 entre MPF, setores produtivo e empresarial e órgãos de fiscalização.

Já as auditagens automáticas são realizadas a partir de dados de Guias de Trânsito Animal (GTAs) e de Cadastros Ambientais Rurais (CARs) dos fornecedores de empresas que não assinaram acordos com o MPF ou não contrataram auditorias próprias para avaliar suas compras.

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As checagens verificam se há controle da origem da matéria-prima, para que a legislação seja respeitada. O cumprimento da legislação evita, por exemplo, que sejam comercializados animais com origem em áreas com desmatamento ilegal, trabalho escravo, invasões a unidades de conservação e a terras indígenas.

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